Cora Coralina – O Tempo como Semente da Criação

retrato de cora coralina

Aninha e suas pedras

Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.

Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.

Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.

Cora Coralina, em Vintém de cobre: meias confissões de Aninha. São Paulo: Global Editora, 1997.

No dia 20 de agosto celebramos o nascimento de Cora Coralina, uma das vozes mais singulares da literatura brasileira. Nascida em 1889, na antiga Cidade de Goiás, Cora não apenas escreveu sobre o cotidiano, a terra e os saberes simples: Cora escreveu a própria vida. E talvez sua maior lição esteja justamente aí: na coragem de florescer tardiamente, com raízes fundas o suficiente para atravessar o tempo.

Cora publicou seu primeiro livro, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, em 1965, aos 76 anos de idade. Antes disso, foi doceira, mãe, mulher comum em uma sociedade que pouco oferecia espaço à voz feminina, sobretudo àquela vinda do interior.

Mas sua poesia já vivia muito antes: no ritmo da panela de cobre, no silêncio do quintal, nas palavras escritas à mão entre um ofício e outro. Sua obra é, acima de tudo, um testemunho da longevidade como potência criativa.

Vivemos tempos em que o envelhecimento, muitas vezes, é visto como um limite. Cora, com sua escrita serena e firme, nos mostra o contrário: o tempo caminha de mãos dadas com a arte, a sabedoria e a construção de si.

Foi já em sua maturidade que Cora ousou apresentar-se como escritora: recitou poemas, publicou em folhetins, ingressou na Academia Feminina de Letras de Goiás. E como foi bem acolhida! Seus versos, de linguagem simples e alma profunda, conquistaram leitores de todas as idades e transformaram a poeta do interior em patrimônio da literatura nacional.

Cora Coralina

Na Gero360, acreditamos na longevidade como um campo fértil para a expressão, a memória, o cuidado e a criação. A história de Cora Coralina nos mostra, com delicada firmeza, que nunca é tarde para começar, recomeçar, publicar ou dizer o que precisa ser dito.A arte, como a literatura, prolonga a vida ao inscrevê-la no tempo, enraizando-nos no agora e projetando nossa voz para além de nós mesmos.

Cora nos lembra que viver é também um gesto de escrita. Um processo feito com calma, profundidade e presença. Cada fase da vida pode se tornar matéria-prima para a criação, e as marcas do tempo não são limites, mas fontes inesgotáveis de sentido.

Neste 20 de agosto, que o exemplo de Cora Coralina nos inspire a cultivar o que verdadeiramente importa. Que possamos semear palavras, gestos e histórias, mesmo que levem décadas para florescer. Afinal, como ela mesma escreveu:

“Fiz a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores.”

Sobre a Gero360

Nosso propósito é aliar conhecimento e tecnologia para inspirar indivíduos, estimular comportamentos e relacionamentos voltados para o cuidar de si e para o cuidar do outro com simplicidade, dedicação e amor.

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