Histórias que cuidam e aproximam
Celebrado em 12 de outubro, o Dia Nacional da Leitura convida a revisitar o lugar que as histórias ocupam em nossas vidas. Ler constitui um gesto de encontro, um modo de partilhar experiências, fortalecer afetos e cultivar presença. Em contextos de cuidado institucional, a leitura transforma-se em instrumento de reabilitação cognitiva, social e emocional.
A literacia familiar une leitura e vínculos afetivos, propondo que o ato de ler vá além das páginas e se converta em elo de convivência e partilha. Atividades de leitura em grupo criam pontes entre gerações e papéis: o residente que narra, o cuidador que escuta, o familiar que participa. Esse movimento coletivo preserva memórias, ressignifica identidades e reafirma o sentido de continuidade da vida.
A leitura como gesto de presença
Nas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), a leitura supera a função recreativa. Entre rotinas de cuidado, alimentação e terapias, abrir espaço para um momento de leitura conjunta transforma o ambiente: o silêncio torna-se escuta, a palavra transforma-se em vínculo, e o cuidado ganha nova dimensão. Reunir residentes, cuidadores e familiares em torno de um texto funciona como exercício de linguagem e gesto de presença. Ler em conjunto significa recordar, ensinar, pertencer e ser reconhecido.
Cada leitura compartilhada reúne tempos, vozes e afetos. Quando a equipe multiprofissional se encontra em torno do livro, o gesto de ler torna-se ato terapêutico e formativo, no qual a palavra atua como ferramenta de escuta, estímulo e pertencimento. Essa pausa simbólica abre espaço para subjetividade, permitindo que cada residente se reconheça como autor de sua trajetória. Ouvir ou contar histórias possibilita revisitar lembranças, fortalecer identidades e descobrir novas formas de expressão.
A prática da literacia familiar aproxima-se das experiências escolares, quando crianças levam histórias para casa e multiplicam o prazer da leitura. Nesse contexto, o movimento ocorre em sentido inverso: famílias trazem suas histórias para dentro da instituição, compartilham lembranças e ampliam o círculo de convivência. Esse retorno simbólico cria novas formas de proximidade e devolve às pessoas idosas o lugar de protagonistas de suas próprias narrativas.
Palavras que transformam o cuidado
Integrar a literacia familiar ao cotidiano das ILPIs resgata a convivência intergeracional, permitindo que crianças, familiares, cuidadores e residentes compartilhem um mesmo território de sentido. A palavra dita ou ouvida assume valor de presença e reconhecimento, reconstruindo o tecido das relações humanas e aproximando técnica e afeto, escuta e ação, cuidado e comunicação.
A leitura em grupo favorece atenção, memória, linguagem e humor, fortalecendo laços afetivos e ampliando o senso de pertencimento. Quando incorporada à rotina institucional, torna-se prática de cuidado integral — simples, acessível e transformadora. Cada história compartilhada na Gero360 traduz-se em gesto de cuidado, abrindo espaço para memória, escuta e afeto no dia a dia das ILPIs. Integrar tecnologia, ciência e práticas humanizadas inspira equipes a reconhecer o poder das pequenas ações que sustentam grandes transformações.
Promover a literacia familiar reafirma que o envelhecimento é um processo vivo, escrito a cada dia. Nas histórias lidas em voz alta, entre pausas, risos e lembranças, o cuidado transforma-se em continuidade, e cada palavra dita torna-se presença. Neste Dia Nacional da Leitura, celebramos as narrativas que unem gerações e transformam o cuidado em presença.
Referências:
Literacia familiar como meio de aproximação entre pais e filhos
https://www.gov.br/mec/pt-br/assuntos/noticias/2022/literacia-familiar-como-meio-de-aproximacao-entre-pais-e-filhos
12 de Outubro — Dia Nacional da Leitura
https://brasilescola.uol.com.br/datas-comemorativas/12-de-outubro-dia-nacional-da-leitura.htm
Conta pra mim – Literacia Familiar
https://alfabetizacao.mec.gov.br/contapramim