26 de Abril – Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial
A hipertensão arterial sistêmica (HAS), popularmente conhecida como “pressão alta”, representa uma das condições crônicas mais comuns e impactantes na saúde da população idosa em todo o mundo, incluindo o Brasil. Sua alta prevalência nessa faixa etária, associada ao risco aumentado de eventos cardiovasculares graves como acidente vascular cerebral (AVC), infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca e doença renal crônica, torna seu controle um pilar fundamental para a promoção de um envelhecimento ativo e com qualidade de vida. No entanto, abordar a hipertensão no idoso exige um olhar diferenciado, que vá além das recomendações gerais e considere as particularidades fisiológicas, clínicas e psicossociais do envelhecer.
Este artigo visa aprofundar a compreensão sobre a hipertensão arterial na pessoa idosa, discutindo suas características específicas, os desafios diagnósticos e terapêuticos, e as estratégias de manejo mais eficazes, que integram mudanças no estilo de vida, acompanhamento médico regular e, quando necessário, tratamento medicamentoso individualizado. O objetivo é fornecer informações claras e práticas, reforçando a importância do autocuidado e do suporte profissional para manter a pressão sob controle e preservar a saúde cardiovascular ao longo dos anos.
Hipertensão Arterial no Idoso: compreensão, cuidado e controle para uma longevidade saudável
A hipertensão arterial, ou “pressão alta”, figura entre as condições crônicas mais comuns no Brasil, afetando cerca de 28% da população adulta. Considerada um dos fatores de risco mais relevantes para doenças cardiovasculares, está diretamente associada às elevadas taxas de mortalidade registradas no país e no mundo. Em pessoas idosas, a prevalência da hipertensão ultrapassa 60%, segundo dados nacionais, reflexo de alterações naturais do processo de envelhecimento, como aumento da rigidez arterial, perda da elasticidade vascular e comprometimento da autorregulação hemodinâmica.
O enrijecimento progressivo das grandes artérias, por exemplo, é um fator chave que contribui para o aumento da pressão sistólica (a “máxima”) e para a maior prevalência da chamada Hipertensão Sistólica Isolada (HSI) em idosos, onde apenas o primeiro valor da medida está elevado. Além disso, a resposta do organismo aos medicamentos e às mudanças posturais pode ser diferente. Idosos são mais suscetíveis à hipotensão ortostática (queda abrupta da pressão ao se levantar), que aumenta o risco de tonturas e quedas, e também podem apresentar “pseudohipertensão” (leituras falsamente elevadas devido à rigidez arterial) ou o fenômeno do “avental branco” (pressão elevada apenas no consultório médico).
O diagnóstico correto, portanto, exige atenção a esses detalhes. A aferição da pressão arterial deve seguir técnicas padronizadas, idealmente em ambos os braços e também com o paciente em pé, após alguns minutos, para detectar hipotensão postural. A monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) ou a monitorização residencial (MRPA) são ferramentas valiosas para confirmar o diagnóstico, avaliar o controle ao longo do dia e descartar a hipertensão do avental branco. As metas de controle pressórico também precisam ser individualizadas, levando em conta não apenas os números, mas a presença de outras doenças (comorbidades), o grau de fragilidade do idoso e os potenciais riscos e benefícios do tratamento.
A hipertensão pode ser prevenida?
A boa notícia é que, embora não tenha cura, a hipertensão pode ser controlada e, em muitos casos, prevenida por meio de mudanças consistentes no estilo de vida. Ajustes simples na rotina, quando incorporados de forma contínua, têm impacto significativo na promoção da saúde cardiovascular e na prevenção de complicações ao longo dos anos.

Pilares do Cuidado: estratégias não farmacológicas essenciais
Antes mesmo de considerar medicamentos, ou em conjunto com eles, as mudanças no estilo de vida são a base fundamental para o controle da hipertensão em qualquer idade, e no idoso não é diferente, embora adaptações sejam necessárias.
- A alimentação desempenha um papel central. A adoção de um padrão alimentar semelhante à dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension), rica em frutas, verduras, legumes, grãos integrais, laticínios com baixo teor de gordura e fontes de proteína magra, é altamente recomendada.
- A redução drástica do consumo de sódio é crucial – não apenas o sal de adição, mas principalmente o sódio “escondido” em alimentos ultraprocessados, embutidos, conservas e temperos prontos. Incentivar o uso de temperos naturais e ervas frescas pode ajudar a compensar a possível redução do paladar com a idade.
- Aumentar a ingestão de potássio (presente em alimentos como banana, abacate, feijão, batata doce e folhas verdes escuras), magnésio e cálcio também contribui para o controle pressórico.
- A hidratação adequada e a moderação no consumo de álcool e cafeína complementam as recomendações nutricionais.
- A atividade física regular é outro pilar indispensável. Exercícios aeróbicos de intensidade leve a moderada, como caminhadas, natação, hidroginástica ou ciclismo, realizados na maioria dos dias da semana, ajudam a melhorar a saúde vascular e a reduzir a pressão arterial.
- Exercícios de fortalecimento muscular (resistência), adaptados à capacidade individual, são importantes para combater a sarcopenia (perda de massa muscular) e melhorar a funcionalidade geral.
- Práticas que combinam movimento e relaxamento, como yoga ou tai chi chuan, podem auxiliar no controle do estresse. É essencial que qualquer programa de exercícios seja iniciado gradualmente, com orientação profissional e adaptado às condições clínicas e preferências do idoso, focando na regularidade e no prazer do movimento.
- Outras medidas importantes incluem o controle do peso corporal, a cessação do tabagismo (que é um fator de risco cardiovascular independente) e a busca por estratégias para gerenciar o estresse e garantir um sono reparador.
Tratamento Medicamentoso: individualização e cautela
Quando as mudanças no estilo de vida não são suficientes para atingir as metas pressóricas, o tratamento medicamentoso se torna necessário. No entanto, a prescrição de anti-hipertensivos para idosos requer cautela e individualização. O princípio “começar com dose baixa e progredir lentamente” é fundamental para minimizar o risco de efeitos colaterais, especialmente a hipotensão. A escolha do medicamento ou da combinação de fármacos deve considerar as comorbidades do paciente (por exemplo, um betabloqueador pode ser útil em quem tem insuficiência cardíaca, enquanto um diurético tiazídico pode piorar a gota), a função renal, os potenciais efeitos adversos (como tontura, tosse, inchaço, alterações eletrolíticas) e as possíveis interações com outros medicamentos que o idoso já utiliza (polifarmácia).
As principais classes de anti-hipertensivos (diuréticos, inibidores da ECA, bloqueadores dos receptores da angiotensina, bloqueadores dos canais de cálcio, betabloqueadores) podem ser utilizadas, mas a seleção deve ser criteriosa. A adesão ao tratamento é outro desafio comum, que pode ser dificultado por esquemas posológicos complexos, esquecimento, custo ou efeitos colaterais. Estratégias como simplificar o regime terapêutico (usando combinações de dose fixa, quando possível), utilizar organizadores de medicamentos, envolver familiares ou cuidadores e manter uma comunicação aberta com a equipe de saúde são essenciais. Ferramentas tecnológicas, como aplicativos de lembrete ou sistemas de gestão de saúde como os da Gero360, podem auxiliar nomonitoramento da adesão e dos níveis pressóricos, facilitando o ajuste do tratamento.
Conclusão: Um Compromisso Contínuo com a Saúde Cardiovascular
Controlar a hipertensão arterial no idoso é um processo contínuo que exige uma abordagem multifacetada e colaborativa. Envolve não apenas a prescrição correta de medicamentos e o monitoramento regular da pressão, mas também um forte investimento em educação para a saúde, promoção de hábitos de vida saudáveis e adaptação do cuidado às necessidades individuais de cada pessoa. A participação ativa do idoso e de sua rede de apoio, em parceria com uma equipe de saúde interdisciplinar (médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, farmacêuticos), é a chave para o sucesso terapêutico.
O objetivo final vai além de normalizar os números da pressão arterial; busca-se prevenir complicações, preservar a capacidade funcional, reduzir o risco de quedas e hospitalizações, e garantir que a pessoa idosa possa desfrutar de uma longevidade com mais saúde, autonomia e qualidade de vida. Cuidar da pressão é cuidar do coração, do cérebro e do bem estar integral ao longo do envelhecimento.
Referências (formato Vancouver)
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