Intoxicação por medicamentos em pessoas idosas

Uso racional de medicamentos

Medicamentos são ferramentas essenciais na promoção da saúde e qualidade de vida, especialmente na população idosa, onde auxiliam no controle de doenças crônicas e no alívio de sintomas. Contudo, essa mesma população é particularmente vulnerável aos riscos associados ao uso de fármacos, incluindo a intoxicação medicamentosa. Este termo, muitas vezes associado apenas a overdoses acidentais ou intencionais, abrange um espectro mais amplo de reações adversas, erros de medicação e interações perigosas, que podem ocorrer mesmo com doses terapêuticas usuais.

A intoxicação por medicamentos é um tema relevante, mas ainda pouco discutido em nossa sociedade. Andar com um “remedinho” na bolsa ou tomar um comprimido sem indicação médica tornou-se um comportamento banal em todas as etapas do envelhecimento. As mudanças fisiológicas inerentes ao envelhecimento, somadas à frequente presença da polifarmácia (uso de múltiplos medicamentos), criam um cenário complexo onde a linha entre o benefício terapêutico e o risco de intoxicação se torna mais tênue. Compreender as causas, saber reconhecer os sinais precocemente e, fundamentalmente, adotar medidas preventivas são passos cruciais para garantir a segurança e o bem estar das pessoas idosas.

Nesse sentido, é importante conscientizar a população sobre os riscos da polifarmácia, tema abordado no Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, celebrado em 5 de maio.

Neste artigo, exploraremos as particularidades da intoxicação medicamentosa neste grupo, destacando a importância do uso racional, das estratégias de prevenção e do papel da tecnologia como aliada no cuidado.

Por Que a Pessoa Idosa é Mais Vulnerável? Entendendo os Fatores de Risco

A maior suscetibilidade da população idosa à intoxicação medicamentosa não é um acaso. Diversos fatores contribuem para esse risco aumentado, começando pelas próprias transformações que o corpo atravessa com o envelhecimento. O metabolismo e a excreção de medicamentos, processos realizados principalmente pelo fígado e pelos rins, tendem a se tornar mais lentos. Isso significa que as substâncias podem permanecer no organismo por mais tempo e em concentrações mais elevadas, aumentando a chance de efeitos tóxicos mesmo com doses consideradas normais para adultos mais jovens. A composição corporal também muda, com alteração na proporção de gordura e água, o que pode afetar a distribuição dos fármacos pelo corpo.

Além das mudanças fisiológicas (farmacocinéticas e farmacodinâmicas), a presença frequente de múltiplas condições crônicas (comorbidades) leva, muitas vezes, à polifarmácia – o uso simultâneo de vários medicamentos. Cada novo fármaco adicionado à lista aumenta exponencialmente o risco de interações medicamentosas e reações adversas. A gestão dessa complexidade terapêutica pode ser desafiadora, tanto para os profissionais quanto para os pacientes e cuidadores. Fatores como dificuldades visuais, problemas de memória ou declínio cognitivo podem levar a erros na administração (tomar a dose errada, esquecer uma dose, tomar duas vezes). A automedicação, o uso de “remedinhos” indicados por amigos ou familiares, ou a dificuldade em comunicar todos os medicamentos em uso (incluindo chás, suplementos e medicamentos de venda livre) a todos os prescritores também são fatores que contribuem significativamente para o risco de intoxicação.

Identificando os Sinais: Um Desafio Diagnóstico

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso racional de medicamentos acontece quando “os pacientes recebem medicamentos adequados às suas necessidades clínicas, em doses que atendam às suas necessidades individuais, por um período de tempo adequado e ao menor custo para eles e sua comunidade”. A OMS estima que mais da metade dos medicamentos sejam prescritos, dispensados e/ou vendidos inadequadamente. E, além disso, que metade dos pacientes os utilizem incorretamente.

Reconhecer uma intoxicação medicamentosa em uma pessoa idosa pode ser particularmente difícil, pois os sinais e sintomas são frequentemente inespecíficos e podem ser facilmente confundidos com manifestações de doenças preexistentes ou até mesmo com o próprio processo de envelhecimento. Enquanto uma overdose aguda pode causar sintomas mais evidentes, muitas intoxicações em idosos são crônicas ou subagudas, desenvolvendo-se lentamente com o uso contínuo de um medicamento ou combinação inadequada.

Sintomas comuns incluem sonolência excessiva, tontura, instabilidade postural e quedas, confusão mental, agitação ou apatia, alterações de humor, perda de apetite, náuseas, vômitos, constipação ou diarreia. Observe que muitos desses sintomas podem ser atribuídos a outras causas. Uma tontura pode ser vista como “labirintite”, a confusão como “sinal de demência”, a sonolência como “cansaço normal da idade”. Por isso, é fundamental que familiares, cuidadores e profissionais de saúde estejam atentos a qualquer mudança no estado físico, mental ou funcional da pessoa idosa, especialmente após a introdução de um novo medicamento ou alteração de dose. A suspeita de uma reação adversa ou intoxicação deve sempre ser considerada no diagnóstico diferencial dessas alterações.

medicamentos

Prevenção Ativa: Estratégias para um Uso Seguro de Medicamentos

A boa notícia é que grande parte das intoxicações medicamentosas em idosos é prevenível. A prevenção começa com a adoção do uso racional de medicamentos, um conceito promovido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que preconiza que “os pacientes recebam medicamentos adequados às suas necessidades clínicas, em doses que atendam às suas necessidades individuais, por um período de tempo adequado e ao menor custo para eles e sua comunidade”. Isso implica uma avaliação criteriosa antes de prescrever, garantindo que o medicamento é realmente necessário, é o mais seguro e eficaz para aquele paciente específico, na dose e duração corretas.

Na prática, a prevenção envolve uma série de medidas colaborativas. Manter uma lista atualizada de TODOS os medicamentos em uso – incluindo prescritos, de venda livre, vitaminas, suplementos e chás – e levá-la a todas as consultas médicas e farmacêuticas é essencial. O farmacêutico clínico pode ser um grande aliado, revisando a medicação e identificando potenciais problemas. Revisões periódicas da medicação pelo médico, idealmente com foco na possibilidade de desprescrição (retirar medicamentos que não são mais necessários ou cujos riscos superam os benefícios), são fundamentais. É crucial evitar a automedicação e nunca usar medicamentos prescritos para outra pessoa. A educação do paciente e do cuidador sobre como tomar cada medicamento, seus possíveis efeitos colaterais e a importância de seguir as orientações é um pilar central. O armazenamento seguro dos medicamentos, longe do alcance de crianças e em local adequado (evitando banheiros, devido à umidade), também previne acidentes. A comunicação aberta entre todos os profissionais envolvidos no cuidado e a participação ativa do paciente e da família nas decisões terapêuticas são a base para um tratamento mais seguro e eficaz.

O Papel da Tecnologia na Prevenção: Ecossistema Gero360 como Ferramenta de Segurança

Assim como na gestão da polifarmácia, a tecnologia surge como uma ferramenta indispensável na prevenção da intoxicação medicamentosa. Sistemas de gestão em saúde, como a plataforma Gero360, oferecem recursos que vão muito além do simples registro de prescrições. Ao integrar informações clínicas, histórico do paciente, resultados de exames (como função renal, essencial para ajuste de doses) e bases de dados farmacológicas atualizadas, essas plataformas criam um ambiente de cuidado mais seguro.

Imagine a capacidade de um sistema alertar automaticamente sobre interações medicamentosas potencialmente perigosas no momento da prescrição, ou sinalizar um medicamento que exige ajuste de dose devido à função renal diminuída do paciente. A centralização das informações garante que toda a equipe multidisciplinar tenha acesso à mesma lista de medicamentos atualizada, evitando prescrições conflitantes ou duplicidades. Ferramentas que facilitam a reconciliação medicamentosa em transições de cuidado são cruciais para evitar erros.

Para o cuidado domiciliar, aplicativos como o Leve by Gero podem auxiliar na organização da rotina medicamentosa, com lembretes e registros de administração, além de facilitar a comunicação entre cuidadores, familiares e a equipe de saúde sobre quaisquer efeitos adversos observados. A tecnologia Gero360, portanto, atua como uma camada adicional de segurança, auxiliando os profissionais na tomada de decisão, otimizando a comunicação e empoderando pacientes e cuidadores com informação e organização, reduzindo ativamente as chances de erros e intoxicações.

O que fazer em caso de intoxicação por medicamentos?

Em caso de intoxicação por medicamentos, importante agir rapidamente. O primeiro passo é acionar imediatamente o serviço de emergência, como o SAMU pelo telefone 192, ou o profissional de saúde que assiste à pessoa.

O tratamento da intoxicação depende da identificação da sua causa. Por isso, quanto mais informações forem passadas aos profissionais, melhor. Assim, será possível definir o melhor tratamento, que pode envolver – por exemplo – lavagem gástrica e medicamentos. 

Na Gero360, entendemos que o cuidado da pessoa idosa vai além da supervisão clínica: ele começa na escuta atenta aos pequenos sinais e se concretiza na capacidade de agir com precisão.

A Gero360 está sempre em busca de conhecimento para desenvolver soluções para a longevidade, que estimulem o bem-estar dos indivíduos. Nosso propósito é aliar conhecimento e tecnologia para estimular comportamentos voltados para o cuidar com simplicidade, dedicação e amor. Conheça mais sobre o nosso trabalho aqui.

Sobre a Gero360

Nosso propósito é aliar conhecimento e tecnologia para inspirar indivíduos, estimular comportamentos e relacionamentos voltados para o cuidar de si e para o cuidar do outro com simplicidade, dedicação e amor.

Posts recentes