Leia a parte 1 deste conteúdo: Medicina do Estilo de Vida: Longevidade e Saúde 60+
O envelhecimento populacional não é apenas um desafio demográfico, é um convite à transformação dos sistemas de cuidado. No lugar de um modelo centrado em doenças e respostas tardias, emerge uma abordagem que valoriza a preservação da capacidade funcional, da autonomia e do propósito de vida ao longo do tempo.
Essa transição é sustentada por evidências científicas robustas e orienta um novo paradigma centrado na vitalidade como expressão concreta da saúde em pessoas idosas. Assim como exploramos no artigo anterior sobre Medicina do Estilo de Vida, promover longevidade com qualidade exige mais do que intervenções médicas isoladas: requer uma rede de escolhas cotidianas, ambientes favoráveis e práticas integradas que cultivem a saúde desde os pilares biológicos até os vínculos sociais.
Da Medicina do Estilo de Vida à Longevidade com Vitalidade
A Medicina do Estilo de Vida, como vimos, propõe intervenções baseadas em evidências que atuam sobre os principais fatores modificáveis que determinam a saúde: alimentação, movimento, sono, manejo do estresse, vínculos e uso de substâncias. A meta é simples e ambiciosa: ampliar os anos de vida com saúde e autonomia.
Agora, ampliamos essa base para integrar o conceito de Capacidade Intrínseca, uma proposta da Organização Mundial da Saúde (OMS) que redefine o envelhecimento saudável a partir da reserva funcional do organismo. Em vez de apenas tratar doenças, o foco passa a ser: preservar e fortalecer os sistemas que sustentam a vida cotidiana.
Vitalidade: mais do que disposição
Entre os cinco domínios que compõem a Capacidade Intrínseca — cognição, mobilidade, função sensorial, dimensão psicológica e vitalidade —, este último se destaca como a base fisiológica comum a todos os demais. A vitalidade não é uma medida subjetiva de ânimo, mas uma expressão integrada da resiliência biológica do corpo que envolve:
Metabolismo energético: a capacidade celular de produzir e utilizar energia de forma eficiente;
Resposta imunológica e inflamatória: um sistema imune que protege sem gerar dano crônico;
Adaptação ao estresse fisiológico: a habilidade de retornar à homeostase após desafios como infecções ou quedas;
Força e integridade neuromuscular: fundamentais para a mobilidade e independência.
Ao monitorarmos e fortalecermos esses eixos, estamos, na prática, aumentando a reserva fisiológica do organismo, um indicador potente da qualidade do envelhecimento.
Como avaliar e monitorar a vitalidade?
A proposta não é esperar que sinais de declínio funcional se tornem incapacidade. A vitalidade pode (e deve) ser avaliada de forma proativa, utilizando ferramentas acessíveis e cientificamente validadas. Segundo Cesari et al. (2022), três frentes principais orientam esse monitoramento:
Autopercepção – Quando o próprio idoso relata sentir-se menos capaz, com fadiga persistente ou perda de força, esse dado deve ser levado a sério. A escuta clínica é uma ferramenta diagnóstica poderosa.
Avaliações funcionais simples – Testes como a força de preensão palmar, a velocidade da marcha ou o Short Physical Performance Battery (SPPB) traduzem o estado funcional em dados objetivos.
Biomarcadores laboratoriais – Indicadores como PCR ultrassensível, IL-6, hemoglobina e perfis antioxidantes oferecem uma janela para o estado inflamatório e metabólico do organismo.
Esses dados permitem estratificar riscos, personalizar planos de cuidado e evitar hospitalizações e declínios evitáveis.
Estratégias práticas para cultivar vitalidade ao longo da vida
Na prática, fortalecer a vitalidade significa criar condições para que o organismo mantenha sua capacidade de resposta. Isso envolve:
Avaliação periódica multidimensional – Integração de dados físicos, emocionais, cognitivos e sociais em uma linha do tempo.
Planos de cuidado personalizados – Cada pessoa carrega uma história fisiológica, afetiva e cultural. As intervenções devem respeitar essa singularidade.
Ambientes que promovem autonomia – Clínicas, ILPIs e residências devem ser desenhadas para estimular movimento, vínculos e participação ativa.
Educação em saúde – Cuidadores, profissionais e idosos devem ser capacitados para reconhecer sinais precoces de perda de vitalidade e agir com prontidão.
O cuidado baseado em vitalidade na prática da Gero360
Na Gero360, essa visão é aplicada de forma concreta por meio de soluções que integram tecnologia, formação e escuta ativa:
Protocolos adaptados à realidade brasileira, com base nas diretrizes da OMS e sensíveis ao cotidiano de ILPIs e serviços domiciliares.
Planos de cuidado centrados na funcionalidade, com foco na prevenção da fragilidade.
Ferramentas digitais para acompanhar a vitalidade em tempo real, conectando dados de mobilidade, cognição e energia.
Capacitação de equipes interdisciplinares, promovendo uma cultura do cuidado proativo, respeitoso e baseado em evidências.
Para além da longevidade: viver com integridade
Longevidade não se mede apenas em anos, mas na qualidade da presença ao longo do tempo. Sustentar a vitalidade é preservar a autonomia, os vínculos e o protagonismo da pessoa idosa, mesmo diante das transformações que o envelhecimento naturalmente impõe.
Esse compromisso exige modelos de cuidado que reconheçam a complexidade de cada trajetória, integrando ciência, sensibilidade e inovação. É nesse horizonte que a Gero360 caminha, para que viver mais signifique, sobretudo, viver com plenitude.
Referências:
Bautmans, Ivan et al. WHO working definition of vitality capacity for healthy longevity monitoring. The Lancet Healthy Longevity, Volume 3, Issue 11, e789 – e796. Disponível em: Link
Cesari M, Araujo de Carvalho I, Thiyagarajan JA, Cooper C, Martin FC, Reginster JY, Beard JR. Vitality as a Core Component of Intrinsic Capacity: Setting the Stage for Future Monitoring and Intervention. Front Med (Lausanne). 2022;9:953377. doi:10.3389/fmed.2022.953377.