Você sabia que 43% dos idosos brasileiros tem medo de cair na rua? Este dado foi resultado de um estudo do Ministério da Saúde e tem relação direta com o tema deste post: a capacidade funcional do idoso. O termo é utilizado para definir a habilidade do indivíduo de “funcionar” no seu dia a dia. Ou seja, realizar desde atividades mais simples, até às mais elaboradas no cotidiano.
Para a população idosa, a perda de funcionalidade é crítica, pois traz consequências drásticas e eventos indesejáveis. Quem perde função está mais sujeito a cair; a apresentar isolamento social e, também, a apresentar alterações orgânicas. É muito comum que um distúrbio funcional seja o primeiro sintoma – muitas vezes ignorado – de problemas de saúde que podem surgir com o processo de envelhecimento.
Envelhecimento populacional sem precedentes na história
O Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas (DESA) atualizou, em junho de 2019, suas estatísticas e projeções sobre a evolução da população mundial. Em seguida, alertou a sociedade quanto ao envelhecimento populacional sem precedentes na história.
Segundo a DESA, em 2018, o número de pessoas com 65 anos ou mais de idade superou o número de crianças menores de cinco anos. Adicionalmente, suas projeções indicam que, até 2050, o grupo de indivíduos mais velhos terá o dobro do tamanho do grupo de crianças abaixo de cinco anos e superará o de adolescentes e jovens entre 15 e 24 anos.
A longevidade é uma conquista, mas traz consigo o risco de que um maior número pessoas se mostrem incapazes de se cuidar sozinhas. Em especial, por perda de sua capacidade funcional.
Então, como garantir que os longevos tenham qualidade de vida, autonomia e independência?
Em primeiro lugar, é preciso avaliar a capacidade funcional do idoso
A capacidade funcional está relacionada com as atividades básicas, instrumentais e avançadas da vida diária e com a mobilidade do indivíduo. Envelhecer mantendo a integridade desses aspectos é um dos objetivos principais para manter uma qualidade de vida. A autonomia é a capacidade do indivíduo de tomar as próprias decisões e gerenciar a própria vida. Já a independência diz respeito à habilidade de realizar, sem auxílio de outras pessoas, as atividades do cotidiano.
No campo do envelhecimento, avaliar função é tão importante quanto avaliar as doenças que afetam esta população. Atividades como levantar da cama sem auxílio; preparar sua própria refeição; realizar o manejo financeiro; fazer compras e vestir-se sem auxílio, estão entre as atividades básicas e instrumentais de vida diária aferidas dentro da capacidade funcional do idoso. Além disso, como citamos no exemplo no início do texto, a mobilidade é um item importante que compõe a avaliação da função do idoso. Velocidade da marcha, habilidade em sentar-se e levantar-se são, muitas das vezes, atos simples, porém extremamente importantes e que determinam nossa habilidade em executar as tarefas do dia a dia.
Como avaliar a capacidade funcional do idoso?
Atualmente, a avaliação funcional do idoso pode ser feita por um conjunto de ferramentas e métodos adotados por profissionais da área de saúde. A Avaliação Geriátrica Ampla (AGA), por exemplo, é uma prática que permite aos geriatras identificarem condições que possam causar a perda de capacidade funcional no idoso. Ela tem o objetivo de diagnosticar precocemente problemas de saúde e de condições de vida além da capacidade funcional, e de uma série de diagnósticos e avaliação interdisciplinar dos fatores físicos, psicológicos e sociais que afetam os pacientes mais idosos e frágeis.
Uma perspectiva ampla sobre a saúde do idoso é fundamental para a melhoria da qualidade de vida deste indivíduo. Aspectos sociais, emocionais, culturais e ambientais refletem diretamente no seu estilo de vida, contribuindo para os aspectos biológicos. Com a AGA, é possível desenvolver um planejamento para tratamento e acompanhamento a longo prazo.
De acordo com texto de autoria do geriatra Dr. Carlos Montes Paixão Júnior (2017), a Avaliação Geriátrica Ampla tem como objetivos:
- Detecção, quantificação e identificação da origem de doenças e perdas funcionais;
- Fornecer uma medida do resultado de intervenções funcionais ao longo do tempo;
- Orientar tratamentos e outras intervenções, tendo em vista a globalidade das funções e a qualidade de vida do paciente na escolha de terapêuticas alternativas;
- Avaliar a necessidade de recursos comunitários;
- Melhorar a previsão do curso de doenças crônicas.
As principais avaliações componentes da AGA são:
SAÚDE FÍSICA:
- Lista tradicional de problemas
- Indicadores de gravidade de doenças
HABILIDADE FUNCIONAL GERAL:
- Atividades básicas e instrumentais da vida diária
- Medidas de marcha e equilíbrio
- Níveis de atividade física
SAÚDE PSICOLÓGICA
- Testes cognitivos (estado mental)
- Instrumentos afetivos (depressão)
PARÂMETROS SOCIAIS E AMBIENTAIS
- Necessidades e recursos de suporte social
- Adequação e segurança do ambiente
Como funciona a Avaliação Geriátrica Ampla?
A avaliação ampla do paciente geriátrico é composta por diferentes etapas que transitam desde a triagem ao acompanhamento do idoso, com ações de prevenção e/ou reabilitação funcional. A identificação do paciente pode ser feita em instituições de saúde, consultórios médicos, em domicílio ou centros de convivência. Em seguida, é feita uma revisão das habilidades funcionais gerais do paciente – atividades básicas de vida diária (AVDs) e atividades instrumentais de vida diária (AIVDs).
Informações complementares sobre sua situação social e do domicílio também são fundamentais para a avaliação, entre eles, a malha social ao redor do paciente, o tipo e quantidade de suporte à disposição e o nível de atividades sociais das quais o paciente participa. Após a coleta dessas informações, é feito o aspecto quantitativo do processo. A AGA identifica e quantifica o nível do distúrbio, a incapacidade e desvantagem do paciente e suas causas.
Os benefícios da realização da Avaliação Geriátrica Ampla se relacionam diretamente com a melhora da capacidade funcional do idoso. Com ela, os profissionais de saúde podem orientar o idoso e as pessoas que compõem o seu círculo de cuidados sobre como preservar ao máximo a autonomia e a independência do paciente. No panorama geral, a avaliação contribui para a diminuição da mortalidade, a melhora da função cognitiva, a diminuição da frequência de hospitalizações e o aumento da probabilidade de se permanecer em domicílio.
No entanto, os desafios batem à porta. Para promover a qualidade de vida do idoso e o envelhecimento saudável, algumas mudanças precisam ser feitas: atenção especial ao tratamento dos idosos nos serviços de saúde, capacitação de profissionais de atenção primária e atualização dos cursos da área de saúde para uma visão integrada das especialidades são algumas delas.
Com o respaldo técnico e sob a orientação do Dr. Virgilio Moreira (Médico, Geriatra, Mestre e Doutor em Ciências Médicas com foco na área do envelhecimento humano), a Gero360 apresenta soluções para a eficácia e segurança no cuidado de idosos. Desenvolvemos produtos voltados para o gerenciamento de ILPI’s e para o cuidado familiar. Clique aqui e saiba mais.
Fontes
- Roberto Alves Lourenço ; SANCHEZ, M. A. ; Carlos Montes Paixão Júnior . Série Rotinas hospitalares Volume VI Geriatria. 1. ed. Rio de Janeiro: Triunfal Gráfica e Editora, 2018. v. 1. 176p (INTRODUÇÃO)
- Estudo – Ministério da Saúde http://portalms.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/44451-estudo-aponta-que-75-dos-idosos-usam-apenas-o-sus
- Projeção da população brasileira nos próximos anos – IBGE https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/
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