Com a chegada do inverno e as bruscas mudanças de temperatura, é comum que muitas pessoas experimentem sintomas respiratórios como espirros, coriza, tosse e congestão nasal. No entanto, diferenciar se esses sintomas são decorrentes de uma alergia sazonal ou de uma infecção viral, como a gripe ou um resfriado, pode ser um desafio, especialmente para a população idosa. A terceira idade apresenta particularidades que tornam essa distinção ainda mais crucial, pois o sistema imunológico enfraquecido e a presença de comorbidades podem agravar quadros que, em outras faixas etárias, seriam considerados leves. Este artigo visa esclarecer as diferenças entre as alergias de inverno e os sintomas gripais, destacando a importância do diagnóstico correto e dos cuidados específicos para a pessoa idosa.
O que são as alergias de inverno?
As alergias respiratórias, como a rinite alérgica, são reações do sistema imunológico a agentes irritantes presentes no ambiente. Durante o inverno, com as janelas geralmente fechadas e a ventilação reduzida, torna-se mais comum o acúmulo de poeira, ácaros, mofo e pelos de animais dentro de casa. Esse cenário favorece o agravamento dos sintomas alérgicos, como espirros frequentes, coriza clara, congestão nasal, coceira nos olhos e na garganta, lacrimejamento e tosse seca persistente. É importante observar que esses sintomas, em geral, não vêm acompanhados de febre e tendem a se manifestar de forma intermitente, piorando especialmente em locais fechados ou com exposição direta aos alérgenos.
Diferentemente das alergias sazonais da primavera e do verão, comumente associadas ao pólen, as alergias de inverno são provocadas principalmente por alérgenos presentes em ambientes internos. Esses agentes se tornam ainda mais prevalentes nessa estação, justamente porque as pessoas passam mais tempo em espaços fechados. Entre os principais gatilhos estão [1]:
- Ácaros e Poeira: Pequenos organismos microscópicos que prosperam em ambientes quentes e úmidos, como colchões, travesseiros, tapetes e estofados. No inverno, com as casas mais fechadas e aquecidas, a concentração de ácaros tende a aumentar.
- Mofo e Fungos: O mofo se desenvolve em áreas úmidas e mal ventiladas, como banheiros, porões e paredes com infiltração. A umidade interna, que pode aumentar no inverno, favorece seu crescimento, liberando esporos no ar que podem ser inalados.
- Pelos de Animais: A caspa de animais de estimação (células mortas da pele, saliva e urina) é um alérgeno comum. No inverno, com os animais passando mais tempo dentro de casa, a exposição a esses alérgenos aumenta.
Sintomas gripais e mudanças de temperatura
Já os sintomas gripais, por sua vez, estão mais frequentemente relacionados a infecções virais, como a gripe (influenza), o resfriado comum ou mesmo quadros mais graves como a pneumonia. Mudanças bruscas de temperatura, associadas à exposição a ambientes fechados com aglomeração, favorecem a disseminação desses vírus. Os sintomas incluem febre (geralmente acima de 38°C), dores no corpo, mal-estar, tosse produtiva ou seca, dor de garganta, dor de cabeça e uma coriza que pode tornar-se espessa e amarelada ao longo dos dias. Entre as pessoas idosas, essas infecções podem se manifestar de forma atípica, com sinais como confusão mental, inapetência, queda funcional ou prostração súbita, exigindo atenção redobrada das equipes de cuidado.
Por que diferenciar os sintomas na pessoa idosa é tão importante?
Distinguir entre esses dois quadros é particularmente importante para o cuidado da população idosa. Com o envelhecimento, o sistema imunológico tende a funcionar de forma menos eficiente, tornando tanto as reações alérgicas quanto as infecções mais frequentes e, por vezes, mais difíceis de diagnosticar com precisão. Além disso, condições como asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ou insuficiência cardíaca podem ser descompensadas por episódios gripais ou mesmo por crises alérgicas mal controladas. O uso inadequado de medicamentos, como anti-histamínicos ou antigripais, também pode representar risco, levando a efeitos colaterais como sonolência excessiva, retenção urinária ou aumento do risco de quedas.
- Febre e Dores no Corpo: São indicativos fortes de infecção viral (gripe ou resfriado), raramente presentes em alergias.
- Duração dos Sintomas: Resfriados geralmente duram de 7 a 10 dias. Alergias persistem enquanto houver exposição ao alérgeno.
- Coceira: Coceira intensa nos olhos, nariz e garganta é um sintoma mais característico de alergias.
- Secreção Nasal: Em alergias, a coriza é geralmente clara e aquosa. Em infecções, pode se tornar mais espessa e amarelada ou esverdeada.
- Histórico: Idosos com histórico de alergias são mais propensos a ter sintomas alérgicos.
Cuidados e medidas de prevenção
Por fim, é importante lembrar que ambas as condições exigem cuidado específico. Em casos de alergia, é necessário manter o ambiente limpo, arejado e livre de agentes desencadeantes, além de orientar o uso criterioso de medicamentos sintomáticos. Já nos quadros gripais, deve-se priorizar o repouso, a hidratação, o monitoramento da temperatura e, sempre que necessário, o encaminhamento médico.
Atenção, cuidado e qualidade de vida
Diferenciar entre alergias de inverno e sintomas gripais pode ser desafiador, mas é uma etapa essencial para a proteção da saúde, sobretudo entre pessoas idosas. Enquanto as alergias representam respostas do sistema imunológico a alérgenos ambientais e não são transmissíveis, as gripes e resfriados envolvem agentes virais e podem evoluir para quadros clínicos graves, especialmente em idosos com doenças crônicas ou fragilidade prévia.
Reconhecer os sinais característicos de cada condição, buscar orientação profissional diante de qualquer dúvida e adotar medidas preventivas — como manter o ambiente limpo, arejado e estar com a vacinação em dia — são atitudes que fortalecem a autonomia, reduzem riscos e contribuem para uma longevidade mais saudável.
Em um cenário de temperaturas mais baixas e maior vulnerabilidade respiratória, o cuidado atento e bem informado se transforma em um aliado poderoso. É por meio dele que promovemos não apenas a prevenção de complicações, mas também o respeito à singularidade de cada pessoa idosa e à sua trajetória de envelhecimento com qualidade de vida.