As quedas representam uma das principais causas de lesões, hospitalizações e perda de independência entre pessoas idosas. No Dia Mundial de Prevenção de Quedas, mais do que chamar atenção para dados alarmantes, o momento convida profissionais, famílias e instituições a refletirem sobre estratégias eficazes de cuidado e prevenção. Afinal, quedas não são eventos inevitáveis do envelhecimento — são frequentemente sinais de alerta para mudanças sutis na mobilidade, no equilíbrio, na força muscular ou mesmo na cognição. Reconhecê-las como tal é o primeiro passo para uma intervenção precoce e centrada na pessoa. E é nesse contexto que a Avaliação Geriátrica Ampla e o rastreio funcional ganham protagonismo.
A ameaça silenciosa: por que as quedas são tão preocupantes?
A cada ano, milhões de pessoas idosas sofrem quedas, sendo que uma parcela significativa desses episódios resulta em fraturas, internações prolongadas e, muitas vezes, perda de autonomia. Além dos impactos físicos, as consequências emocionais são profundas: o medo de cair novamente pode limitar a mobilidade, desencadear o isolamento social e acelerar o declínio funcional. Esse ciclo vicioso evidencia a urgência de medidas preventivas integradas, que aliem sensibilização, triagem precoce e intervenções personalizadas.
Avaliação Geriátrica: a pedra angular da prevenção
A prevenção eficaz começa com uma avaliação geriátrica abrangente — processo multidimensional que permite mapear os fatores de risco associados às quedas, tanto do ponto de vista clínico quanto ambiental. Entre os principais fatores de risco, destacam-se:
Fatores intrínsecos: alterações no equilíbrio e na marcha, fraqueza muscular, déficit visual e auditivo, doenças crônicas como Parkinson ou diabetes, uso excessivo de medicamentos (polifarmácia) e declínio cognitivo.
Fatores extrínsecos: ambientes inseguros, tapetes soltos, má iluminação, ausência de barras de apoio e uso de calçados inadequados.
A identificação desses elementos orienta o plano de cuidado e possibilita a implementação de ações específicas para reduzir o risco de novas quedas.
Rastreamento funcional: o TUG como aliado clínico
Entre os instrumentos de rastreio recomendados para avaliar o risco de quedas, o Timed Up and Go (TUG) é um dos mais reconhecidos pela literatura científica. De aplicação simples e rápida, o TUG permite avaliar a mobilidade funcional, o equilíbrio e o tempo de resposta motora da pessoa idosa.
Como funciona?
O teste consiste em pedir que o idoso, sentado em uma cadeira com braços, levante-se, caminhe 3 metros, contorne um ponto de referência, volte e sente-se novamente. Todo o percurso é cronometrado.
Interpretação dos resultados:
≤ 10 segundos: mobilidade funcional adequada
10 a 12,47 segundos: risco leve de quedas
12,47 segundos: risco aumentado
≥ 20 segundos: comprometimento funcional severo
Pela clareza dos critérios e facilidade de execução, o TUG é amplamente utilizado na atenção primária, em ILPIs e em programas de envelhecimento ativo. Na plataforma Gero360, profissionais têm acesso a conteúdos técnicos padronizados para aplicar e interpretar o teste com qualidade e segurança.
Prevenção em múltiplas frentes: uma abordagem holística
Embora o TUG seja uma ferramenta valiosa, a prevenção de quedas exige uma estratégia abrangente, que considere o contexto de vida da pessoa idosa. Entre as ações mais recomendadas estão:
Atividade física regular: exercícios que promovam força muscular, equilíbrio e flexibilidade;
Revisão medicamentosa: identificação de fármacos que aumentam o risco de quedas;
Adaptação do ambiente: instalação de barras de apoio, correção de iluminação e retirada de obstáculos;
Uso de calçados adequados: preferencialmente fechados, com solado antiderrapante;
Educação continuada: orientação a idosos e cuidadores sobre riscos e medidas preventivas;
Cuidado interdisciplinar: acompanhamento integrado por médicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, enfermeiros e assistentes sociais.
Conclusão
A prevenção de quedas é, sobretudo, um compromisso com a dignidade e a segurança da pessoa idosa. Por meio de uma avaliação geriátrica criteriosa, do uso de instrumentos validados — como o Timed Up and Go (TUG) — e da articulação entre profissionais de diferentes áreas, é possível identificar precocemente os fatores de risco, agir com assertividade e promover um envelhecimento mais saudável e independente. O Dia Mundial de Prevenção de Quedas nos lembra que cada queda evitada representa mais do que a ausência de um acidente: é a preservação da autonomia, da autoestima e da qualidade de vida. Prevenir quedas é cuidar de vidas — com ciência, sensibilidade e responsabilidade compartilhada.
Referências:
Podsiadlo, D., & Richardson, S. (1991). The Timed “Up & Go”: A Test of Basic Functional Mobility for Frail Elderly Persons. JAGS, 39(2), 142–148.
Disponível em: Link
Alexandre, T.S. et al. (2012). Accuracy of Timed Up and Go Test for screening risk of falls among elderly. Rev Bras Fisioter, 16(5), 381–388.
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