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Homossexualidade na terceira idade

Ana Paula Neves em 17/05/2022

Casal homoafetivo com bandeira LGBTQIA+

A sexualidade da pessoa idosa costuma ser um tabu rodeado de preconceitos. Quando se trata de homossexualidade na terceira idade, os preconceitos e os desafios podem ser ainda maiores.

Além dos tabus que normalmente são atrelados às relações afetivas na terceira idade, a população idosa LGBT enfrenta o desafio de uma geração que, geralmente, não aceita com naturalidade o relacionamento homoafetivo.

A homossexualidade diz respeito à orientação sexual e é um tema frequentemente discutido entre os jovens. Neste texto, sugerimos uma reflexão sobre cenário e desafios do idoso homossexual no Brasil – tema pouco discutido na nossa sociedade e até mesmo dentro do movimento em prol dos direitos das pessoas LGBT.

O termo LGBT refere-se às lésbicas, gays, bissexuais, intersexuais, onde o T, além de representar a presença de travestis e transexuais, em alguns locais no Brasil, diz respeito também à transgêneros – pessoas que não se identificam com o comportamento ou papel esperado do seu sexo biológico determinado pelo nascimento.

 

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Uma luta recente

Apesar de ser uma pauta cada vez mais discutida entre sociedade, organizações e governos atualmente, pode-se dizer que o debate começou a ganhar destaque há apenas algumas décadas. Em 17 de maio de 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID).

Dados publicados em 2019 pela Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexuais, em 70 países a homossexualidade ainda é criminalizada, com a pena variando entre multas e prisão (inclusive perpétua) até pena de morte. Além disso, a transexualidade só deixou de ser classificada como doença pela OMS em junho de 2018.

Apesar deste panorama, alguns avanços aconteceram ao longo dos últimos anos. O casamento entre pessoas do mesmo sexo passou a ser reconhecido em muitos países. No Brasil, houve a equiparação da união estável homoafetiva em 2011, o casamento civil foi aprovado em 2013 e o direito à adoção por casais do mesmo sexo em 2015.

No entanto, sabemos que apenas leis escritas não mudam preconceitos e tabus. Principalmente, quando falamos das gerações mais velhas, que, normalmente, tem mais dificuldades para encarar com naturalidade a homossexualidade. Em muitos casos, esses indivíduos vieram de um contexto familiar e social onde as relações entre pessoas do mesmo sexo eram reprovadas e, por isso, são pessoas que pertencem a uma geração reprimida.

Solidão e isolamento

Quando tratamos do idoso homossexual, existe uma complexidade de fatores discriminatórios, como, por exemplo, o fato de que a maioria desses indivíduos foi expulso de casa e perdeu a rede de suporte que é a família. A solidão tem um grande impacto no bem-estar do idoso e, na ausência de cônjuges e filhos, a rede de proteção deste indivíduo diminui.

Deve-se levar em consideração também que os homossexuais idosos de hoje internalizaram, de certa forma, atitudes e crenças culturais negativas, submetidos a opressão e desvalorização de si mesmo. O resultado disso é a saúde mental fragilizada. Adicionalmente, em muitos casos, o cenário de abandono por parte de familiares e amigos favorece o desenvolvimento de depressão.

Além disso, essa população enfrenta maiores dificuldades no serviço público de saúde, com a falta de preparo no atendimento e os preconceitos associados a infecções sexualmente transmissível (IST).

Falta de dados prejudica ações de suporte para essa população​

Pela primeira vez, em 2010, o Censo Demográfico identificou e enumerou a quantidade de relações homoafetivas. Naquela época, mais de 60 mil casais homoafetivos vivam juntos no Brasil. Este é um dos poucos dados oficiais que fazem um levantamento sobre a população LGBTQIA+ no Brasil.

Dessa forma, a ausência de conhecimento sobre essa população põe em risco o envelhecimento saudável, levando em consideração necessidades e experiências específicas permanecem, em grande parte, desconhecidas.

Em maio de 2021, foi realizada uma audiência pública na comissão dos Direitos da Pessoa Idosa da Câmara dos Deputados sobre a necessidade de políticas para garantir um envelhecimento com qualidade para a população LGBTQIA+. Como falamos anteriormente, o tema une um duplo preconceito: contra os mais velhos e contra os homossexuais.

Entre as pautas discutidas, foi salientada a discriminação nas Instituições de Longa Permanência de Idosos (ILPIs). Um dado apresentado pelo especialista em Gerontologia Diego Félix informou que, de 100 entidades consultadas em São Paulo, só uma identificou um gay entre os residentes e ele estava sofrendo violência por parte dos outros idosos.

É preciso promover o diálogo

Expandir o conhecimento sobre as necessidades da população homossexual durante a 3ª idade e promover o diálogo nesta área torna-se fundamental para o bem-estar nesta etapa da vida. Dessa forma, é necessário o envolvimento dos profissionais de saúde e cuidado ao idoso, instituições e governo para realizar mudanças significativas e garantir os direitos dessa população.

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