A força de preensão palmar, também conhecida como handgrip strength, é um dos indicadores mais acessíveis para a avaliação do estado funcional. Mais do que medir a força das mãos, esse teste rápido e de baixo custo fornece um retrato da saúde global e da reserva funcional do organismo. Seu valor vai além do músculo, refletindo a vitalidade da pessoa idosa.
O que é a força de preensão palmar?
A preensão palmar mede a força aplicada ao apertar um dinamômetro com a mão dominante. Esse dado, embora aparentemente simples, está fortemente associado à força muscular geral e se consolida como um marcador confiável de risco funcional no envelhecimento.
O protocolo ICOPE (Integrated Care for Older People), desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), inclui esse teste como um dos pilares da capacidade intrínseca, em especial, no domínio da vitalidade. Sua relevância clínica decorre das associações consistentes com desfechos graves, como sarcopenia, quedas, hospitalizações e até mortalidade precoce.
Por que avaliar a força muscular é fundamental?
Com o avançar da idade, é comum a perda gradual de massa e força muscular — um processo denominado sarcopenia, que muitas vezes se instala silenciosamente. A preensão palmar é, nesse contexto, um alerta precoce. Detectar a perda de força permite agir antes que ela comprometa a autonomia da pessoa idosa ou a leve à dependência funcional.
Estudos populacionais reforçam sua importância. No Brasil, o FIBRA-BR, maior estudo multicêntrico sobre envelhecimento no país, disponibilizou valores de referência ajustados para sexo, idade e estatura — ferramenta essencial para interpretar corretamente os resultados dentro da nossa realidade epidemiológica.
Como aplicar o teste corretamente?
A realização do teste requer alguns cuidados técnicos para garantir precisão. Recomenda-se:
- Sentado, com os pés apoiados no chão
- Braço dominante posicionado ao lado do corpo
- Cotovelo fletido a 90°, antebraço em posição neutra (polegar para cima)
- Punho em posição neutra, levemente estendido
A orientação é direta: “Aperte o aparelho com a maior força possível por 3 a 5 segundos. Devem ser feitas três tentativas, com 30 segundos de intervalo entre elas. A média da segunda e terceira medidas é a que deve ser registrada.
O instrumento mais utilizado é o dinamômetro hidráulico modelo JAMAR®, embora outras versões calibradas também possam ser empregadas.
Como interpretar os resultados?
Critérios da OMS (EWGSOP2):
Homens: força < 27 kgf → força reduzida
Mulheres: força < 16 kgf → força reduzida
Critérios do FIBRA-BR (referência brasileira):
Abaixo do 10º percentil (ajustado por sexo, idade e altura) → risco funcional elevado
Entre o 10º e o 25º → atenção e monitoramento intensificado
Acima do 50º → força preservada
Esses valores devem ser interpretados à luz do contexto clínico e funcional do indivíduo, integrando os dados à Avaliação Geriátrica Ampla (AGA).
Diante de um resultado alterado, o que fazer?
Um resultado abaixo dos pontos de corte é um sinal de alerta. As ações recomendadas incluem:
Início de programa de exercícios resistidos supervisionados
Avaliação complementar para diagnóstico de sarcopenia
Integração dos achados ao plano de cuidado individualizado
Reavaliações periódicas, a cada 3 a 6 meses, para monitorar evolução ou resposta terapêutica
Recomendações práticas para o dia a dia
Utilize sempre o lado dominante da pessoa avaliada
Evite aplicar o teste em casos de dor aguda ou limitações articulares
Atente-se à postura corporal e à posição do punho e cotovelo
Documente os dados e acompanhe a evolução ao longo do tempo
Conclusão
A força de preensão palmar é um marcador clínico potente: simples de aplicar, mas profundamente revelador. Ao antecipar riscos funcionais e orientar decisões terapêuticas, torna-se uma ferramenta estratégica para equipes que atuam na promoção da autonomia e na prevenção de declínios evitáveis.
Na Gero360, entendemos que avaliar vai além de mensurar — é uma forma de escutar o corpo, compreender sua trajetória e agir com precisão. Por isso, incorporamos protocolos reconhecidos, como o ICOPE, ao nosso compromisso com um cuidado individualizado, preventivo e centrado na pessoa.
Quando se avalia com intencionalidade, cuida-se da longevidade com propósito e clareza de direção.