Sexualidade na terceira idade: quebrando tabus e promovendo saúde
Falar sobre sexualidade ainda é, para muitos, um desafio permeado por preconceitos e silêncios. Persiste a ideia equivocada de que o desejo, o prazer e os vínculos afetivos desaparecem com o passar dos anos, quando, na verdade, a vivência erótica e afetiva segue desempenhando um papel importante na saúde física, emocional e relacional da pessoa idosa. Reconhecer esse aspecto da existência como algo legítimo e saudável é fundamental para oferecer um cuidado que considere o ser humano em sua complexidade, inclusive no que diz respeito à expressão dos afetos e ao contato íntimo. Promover um diálogo aberto, respeitoso e bem informado é um passo essencial para garantir que o envelhecer seja vivido com liberdade, segurança e bem-estar.
Prevenção e longevidade
Mesmo após os 60 anos, é fundamental reforçar a importância do uso de preservativos e de práticas seguras nas relações sexuais. O envelhecimento não elimina os riscos relacionados às ISTs — pelo contrário, em muitos casos, acentua a vulnerabilidade devido à presença de outras condições crônicas e à diminuição da resposta imunológica. O tabu em torno da sexualidade na velhice pode agravar esse cenário, pois tende a levar ao silêncio, à vergonha e à ausência de busca por informação ou acompanhamento profissional. Soma-se a isso a escassez de campanhas educativas voltadas especificamente para o público idoso, o que contribui para a perpetuação de mitos e para a invisibilização desse tema nos cuidados em saúde.
O Dia Mundial de Luta contra a AIDS, celebrado em 1º de dezembro, nos lembra da importância contínua da prevenção e do cuidado. Dados do Ministério da Saúde revelam um crescimento expressivo no número de diagnósticos de HIV entre mulheres idosas: entre 2007 e 2017, houve um aumento de 657% nos casos entre aquelas com mais de 60 anos. A infecção pelo HIV tende a provocar impactos físicos mais acentuados em pessoas idosas, especialmente quando associada a outras condições crônicas já presentes nessa fase da vida.
Entre os fatores que contribuem para esse cenário, destacam-se:
Mudanças nos vínculos e relacionamentos: o aumento de novas parcerias afetivo-sexuais entre pessoas idosas tem favorecido uma vida sexual mais ativa em todas as idades.
Avanços em saúde sexual e reprodutiva: o uso de terapias hormonais e medicamentos para disfunção erétil contribui para prolongar a vida sexual ativa.
Desuso do preservativo: há ainda uma percepção equivocada de que, ao não haver risco de gravidez, não seria necessário se proteger — o que ignora os riscos de ISTs.
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Como o envelhecimento afeta a sexualidade?
É inegável que o envelhecimento traz consigo alterações fisiológicas e hormonais que podem afetar a vivência da sexualidade, mas é importante lembrar que sexualidade não se limita ao ato sexual. Ela abrange o toque, o afeto, o desejo, a intimidade e o prazer — elementos profundamente ligados à forma como cada pessoa se relaciona consigo mesma e com o outro. A satisfação sexual, inclusive, pode se manter viva e significativa ao longo da maturidade, independentemente das adaptações que o corpo exige.
No entanto, durante o processo de envelhecimento, aspectos fisiológicos e hormonais impactam a vivência da sexualidade:
Entre mulheres:
Climatério: fase de transição entre o período fértil e a menopausa, marcada por sintomas como irregularidades menstruais, irritabilidade, labilidade emocional e alterações físicas.
Menopausa: corresponde à cessação definitiva da menstruação, podendo causar ondas de calor, secura vaginal, diminuição da libido, distúrbios do sono e sintomas depressivos.
Entre homens:
Andropausa: caracterizada pela redução progressiva da produção de testosterona, esse processo pode levar à diminuição do desejo sexual, apatia, aumento da gordura corporal, insônia, irritabilidade e depressão. Diferente da menopausa, a andropausa é mais gradual e com sinais menos evidentes.
Apesar de distintos, esses processos exigem atenção e acolhimento — não como patologias, mas como parte de um ciclo natural da vida que merece cuidado e compreensão.
Prevenção e o Papel dos Profissionais de Saúde
Nesse contexto, o papel dos profissionais de saúde torna-se estratégico. Cabe a eles não apenas abordar o tema com escuta qualificada e sem julgamentos, mas também oferecer orientações claras sobre prevenção, autocuidado e possíveis tratamentos para questões relacionadas à saúde sexual e reprodutiva na velhice. Estimular a autonomia da pessoa idosa, respeitar seus limites e desejos e facilitar o acesso a serviços especializados são caminhos potentes para garantir um cuidado mais completo, inclusivo e centrado na pessoa.
A sexualidade, longe de ser um capítulo encerrado, continua sendo uma expressão legítima de afeto, saúde e prazer — e, como tal, merece espaço no cotidiano dos cuidados gerontológicos.
É preciso promover o diálogo
É tempo de quebrar estigmas e garantir que o envelhecimento seja vivido em sua plenitude, inclusive no campo da intimidade. Na Gero360, seguimos comprometidos com a promoção de um cuidado sensível, que reconhece a diversidade das experiências e valoriza a escuta ativa como ferramenta para transformar realidades. Falar sobre sexualidade na terceira idade é também falar sobre dignidade, autonomia e o direito de continuar sentindo, desejando e se conectando — em todas as fases da vida.